sábado, 14 de julho de 2018

O "VAR" do vôlei é menos problemático. Por quê?

FIVB/Divulgação

Quem é fã de vôlei sabe que no fim de todas as partidas não haverá empates. A busca por cada ponto, por cada set, é fundamental, tanto quanto apenas um gol que se faz numa partida de futebol e torna suficiente para dar vitória para um time. Porém, ao contrário do jogo no campo de grama, no vôlei as jogadas acontecem numa velocidade absurda. Em algumas são impossíveis de serem acompanhadas pelo olhar e pelo raciocínio humano com exatidão. 

Antes da implementação do árbitro de vídeo no vôlei, o chamado video challenge, inúmeras injustiças aconteceram por conta dessa incapacidade humana. Não seria falta de interpretação da jogada ou interpretação equivocada do árbitro, até porque, no vólei, a finalização dos pontos são fatos sem argumentos e sem análises subjetivas. 

Na modalidade de praia, por exemplo, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) passou a trabalhar veementemente para introduzir o vídeo a fim de auxilar a arbitragem após o Mundial da Holanda, em 2015. Na época, um erro decidiu a partida válida pela semifinalentre os holandeses Nummerdor/Varenhorst e os brasileiros Pedro Solberg/Evandro. A bola bateu levemente nos dedos de Varenhorst, que recusou o golpe, após ataque de Evandro. O lance foi repetido no telão da arena de Haia, mas a arbitragem marcou bola fora e confirmou a vitória dos donos da casa.

Dessa forma, a existência de um sistema quase que um pan-óptico, então, se faz muito útil. Essa ideia foi concebida pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham em 1785 como um mecanismo que permite a um único vigilante observar todos os prisioneiros, sem que estes possam saber se estão ou não sendo observados. O medo e o receio de não saberem se estão a ser observados leva-os a adotar a comportamento desejado pelo vigilante¹.

No caso, do vôlei, a existência do sistema de vídeo é clara e, por conta disso, os jogadores sabem que estão sendo observados. Essa é a diferença, que não muda, porém, o fato de que não poderão reclamar ou tentar interferir na decisão de exerce as regras, pois contra o vídeo não há argumento, afinal, ao contrário do futebol, a aplicação delas é objetiva. Logo, em tempos de fair play em todos os segmentos do esporte divulgados a exaustão, levar os jogadores a terem um comportamento desejado pelos grandes que comandam os campeonatos e federações (os vigilantes se fosse no pan-óptico) também é importante.

Talvez, seria o sonho do VAR do futebol ter autonomia para dizer alguma coisa por conta própria, mas como o futebol é um jogo de contato, de movimento e de intensões anti-fair play, tudo que não se conclui recorre para a reinterpretação humana com ajuda de uma gravação. 

Um toque na rede, um toque na bola, bola fora ou dentro, na antena ou em algum jogador, invasão. No vôlei, todas essas possibilidades de dar pontos ao adversários acontecem, independente de conclusões que possam se diferenciar de um juiz para o outro. Como a tecnologia é bastante avançada, aquele juiz, que poderia insistir numa situação que o árbitro de vídeo diz o oposto, estaria colocando em dúvida a sua capacidade e seu profissionalismo em apitar uma disputa. 

Outro ponto que torna o mecanismo mais justo é que as solicitações feitas por jogadores e comissão técnica são levadas mais a sério. Visto que as características do esporte e também pelo acordo de um pedido por set, a revisão da jogada vem baseada em um fato que aconteceu ou não, não de achismos.

Com ausência do "VAR", indubitavelmente, muitas equipes já foram prejudicadas. O time adversário, nos momentos mais tensos e decisivos, dificilmente confessará o erro. Mas o vídeo estará ali para desmenti-lo e compensar a incapacidade humana de acompanhar detalhe por detalhe a cada segundo. 

Portanto, ao contrário do VAR do futebol, onde mesmo com o uso da imagem ainda cabe interpretação subjetiva do juiz, no vôlei a análise chega a ser robótica em um tudo ou nada. No futebol não existe um padrão definido de quanto de empurrão ou pisão deve ser dado para conseguir alguma falta ou pênalti. Já no vôlei, os pontos são mais óbvios porque existe uma linha demarcadora, um toque que não é permitido na rede, uma bola fora que cabe ao arbitro concluir de que é ponto de algum time. Para avaliar uma situação dessas, as pessoas não trabalham a mente da forma como o VAR do futebol exige que você trabalhe. 

Então o VAR do vôlei é menos problemático, pois as jogadas, com erros ou não, são exatas. Já no futebol, mesmo revendo o lance posso não concordar com outras opiniões, afinal a interpretabilidade existe em escala muito maior.

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¹ Definição retirada de https://pt.wikipedia.org/wiki/Pan-%C3%B3ptico

 

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