quarta-feira, 13 de junho de 2018

Por que há cada vez mais conteúdo sobre futebol no YouTube?

As novas formas de produção de conteúdo ampliaram a oferta de conteúdos de uma maneira jamais antes vista. Dessa forma, na era da cibercultura e da facilitação de fazer circular a informação de forma banal, sem necessariamente relacionar isso à entropia, está sendo possível de uma maneira nunca antes vista que cada um possa produzir conteúdo de algo que tem propriedade para falar, por ser entusiasta ou por ser realmente qualificado em uma determinada área.

Com os esportes, leque de temas do blog, não seria diferente, principalmente se tratando de futebol, o desporto mais popular do planeta. Por conta disso, vamos explicar neste post o histórico do fenômeno da cibercultura e como isso se reflete na oferta de conteúdo sobre futebol que vai além da grande mídia.

O insight de produzir conteúdos específicos, seja em texto ou vídeo, se coaduna com a descrição de André Lemos de um dos três princípios, como ele mesmo divide, da cibercultura, que nada mais é do que a troca de elementos da cultura que vivemos hoje a partir das possibilidades abertas pelas tecnologias eletrônico-digitais. Segundo Lemos, o primeiro princípio, que está na base de tudo, é a liberação do polo de emissão.

Dessa forma, se separarmos a era da cultura massiva, datada na literatura desde a década de 20 com o surgimento da teoria hipodérmica e a impotência das pessoas ao questionar tudo o que a mídia informa, e a era da cultura “pós-massiva”, que nada mais é que a superação de todos esses conceitos centenários, o que vemos desde o fim da década de 90 com surgimento da web 2.0, é o antigo “receptor” passar a produzir e emitir a própria informação para um público que cada vez mais cresce e, consequentemente, disposto a demandar cada vez mais tipos de conteúdo.

No YouTube, por exemplo, o maior site de compartilhamento de vídeos do mundo, podemos dizer que isso começou há pelo menos oito anos. Criado em 2005, a plataforma tem esse nome justamente porque todo o conteúdo é disponibilizado pelos próprios usuários. Desde então, a prática comum era a postagem de vídeos caseiros esporádicos filmados, geralmente, com baixa qualidade audiovisual, resultado, em primeiro lugar, da tecnologia iniciante de câmeras em dispositivos móveis.

Outrossim, a plataforma mudou quando os próprios usuários passaram a organizá-la de outra maneira: o que era visto como amador se tornou cada vez mais profissional. Preocupações que não existiam se tornaram fundamentais para quem desejava se destacar: roteiro, iluminação, captação sonora, enquadramento, divulgação, programação de postagem…  Foi quando meros usuários com suas contas de e-mail logadas se tornaram produtores de conteúdo donos dos próprios canais emissores.

E essa troca de informações é globalizada. Idioma e diferenças culturais não são empecilhos para esse processo. A exemplo disso, a ideia de globalização, característica da cultura contemporânea, geopoliticamente nos remete à concepção de perda de uniformidade no território. Na esfera cultural, as fronteiras também estão a desaparecer pelo que se chama de multiculturalismo, conceito chamado pelo sociólogo britânico Anthony Giddens de desencaixe. Por meio da internet é possível ter acesso a uma infinidade de conteúdos de outras nações sem nos darmos conta dessa desterritorialização.

Mas com tanta gente querendo produzir, será que existe tanta gente para assistir, considerando que quem produz também acompanha outros produtores de conteúdo? É claro que sim. O que não se pode dizer é que todos que emitir informações em rede terão o mesmo sucesso de uma minoria. Um grande exemplo no Brasil é o canal no YouTube Desimpedidos, que é o detentor da maior quantidade de inscritos na categoria futebol na plataforma, com pouco mais de seis milhões de inscritos. Existem diversas explicações técnicas para esse número, seja competência, investimento inicial, competência dos profissionais.... Mas na nossa análise vamos abordar o conceito central de rede social defendido por Raquel Recuero e como essa rede se expande.

Segundo ela, sob uma ótica de Wasserman e Faust, além de Degenne e Forse, uma rede social é um conjunto de dois elementos: os atores e suas interações, considerando que o termo rede aqui é utilizado como metáfora para análise de conexão de um determinado grupo. Por conta do distanciamento dos indivíduos na interação social (quem produz o conteúdo e quem o acompanha) - característica da comunicação mediada por computador -, os atores, que são os responsáveis pela produção de conteúdo, trabalham com construções identitárias neste ciberespaço.

Isso se deve pela intensa busca da construção da própria identidade por parte dos atores no ciberespaço, de acordo com a citação de Döring, Lemos e Sibilia feita por Raquel Recuero. Segundo ela, “essas apropriações funcionam como uma presença do ‘eu’ no ciberespaço, um espaço privado e, ao mesmo tempo, público. Essa individualização dessa expressão, de alguém ‘que fala’ através desse espaço é que permite que as redes sociais sejam expressas na Internet”.

Um exemplo pode ser encontrado em diversos canais sobre o fantasy game Cartola, jogo no qual o desempenho real de jogadores de futebol no Campeonato Brasileiro da Série A atribui pontuações virtuais para quem os escalam. Com a facilidade de criação de conteúdo no ciberespaço, muitos acreditam que possuem a capacidade de dar dicas para outros usuários divulgando conteúdo. Porém, com a grande concorrência na plataforma, resultante do primeiro princípio da cibercultura, cada produtor de conteúdo precisa encontrar o próprio “eu” no ciberespaço, segundo Requero.

Em outras palavras, a busca por uma identidade única é uma estratégia de diferenciação para que a definição de rede social posta aqui seja feita com maior alcance em meio a diversos outros atores no ciberespaço. Sibilia se refere a essa necessidade de exposição pessoal como “imperativo da visibilidade”, na qual é preciso ser “visto” para existir no ciberespaço. É uma disputa por espaço dentro do ciberespaço, independentemente da plataforma. O resultado disso é o que André Lemos chama de terceiro princípio da cultura contemporânea (cibercultura): a reconfiguração.

O que temos na prática é jornais fazerem uso de blogs e de podcasts, que por sua vez emulam programas de rádio; as rádios também fazem o papel inverso e divulgam suas emissões editadas em formato podcast; a televisão faz referência à internet, e a internet faz referência à televisão. Por conta disso que cada vez mais os programas esportivos da TV aberta, e principalmente dos canais por assinatura, buscam chegar a um formato mais dinâmico encontrado na internet; enquanto os canais da internet divulgam seus vídeos com coordenação, edição e direção encontradas em emissoras de TV, justamente para buscar o “imperativo da visibilidade” de Sibila.

Alguns exemplos podem ser vistos com jornalistas que divulgam as próprias opiniões em outras redes sociais.

O jornalista Mauro Cezar Pereira, da ESPN, criou seu próprio canal no YouTube para tratar dos mais diversos assuntos sobre futebol. O espaço já conta com mais de 76 mil inscritos e conteúdos que ultrapassam 150 mil visualizações. Outra personalidade do futebol que migrou para a plataforma foi o ex-jogador Zico. O “Galinho”, como é conhecido, tem mais de 723 mil inscritos. O flamenguista produz vídeos com outros famosos do meio, seja com entrevistas ou com desafios de cobranças de falta - ponto forte em sua carreira.

Em ritmo de Copa do Mundo, alguns jogadores da Seleção Brasileira também estão produzindo conteúdo como forma de aproximar os fãs. O lateral esquerdo Marcelo criou um canal há um tempo e hoje já tem quase 767 mil inscritos. O jogador do Real Madrid busca mostrar os bastidores do clube espanhol e da Seleção Brasileira. É uma maneira de exibir o que a TV não exibe. Colocar os torcedores dentro dos vestiários, das preparações que antecedem a um jogo. Já Willian criou o canal justamente para mostrar a caminhada dos comandados de Tite na Rússia. O atacante está produzindo no YouTube a série “The Journey” (A Jornada, em inglês), mostrando os bastidores e entrevistas dos envolvidos na jornada canarinho rumo ao hexa.

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